sábado, 22 de janeiro de 2011

Alan Calassa e o seu 14 Bis


Aos 47 anos, piloto há 31, mas desde a infância fascinado por Santos Dumont, Calassa conseguiu refazer o projeto (a planta) do 14 Bis. "Comparando fotos, parti da altura do Santos Dumont, e das rodas do avião, de aro 26, para calcular as medidas exatas."

Alan Calassa estudou cuidadosamente esses mecanismos usados por Santos Dumont. Na verdade, partiu do zero, porque a planta do avião não existe mais. Correu mundo, leu muito, pesquisou e teve o apoio de especialistas.

O 14 Bis tem 9,6 metros de comprimento, 11,7 metros de envergadura (de uma ponta a outra da asa) e 3,72 metros de altura (nas pontas das asas). Pesa 220 quilos. Como prova de que as medidas da réplica são as mesmas do original, Calassa fala do cesto de vime onde o piloto fica. "Depois de tudo pronto, descobri que o cesto original estava em Cotia. Fui medi-lo e constatei que tinha a exata medida do cesto que construíra."

Tudo muito bem, mas como se faz um 14 Bis? Calassa conseguiu, no País, cana-da-índia, um tipo de bambu comum na Europa. E o frejó, madeira leve e resistente. Com o primeiro, fez o caixão central, o corpo do avião. Com o outro, o berço do motor e do cesto (para magros: 25 centímetros de boca).

A caixa central foi recoberta por seda japonesa. Para impermeabilizá-la, Calassa, como Santos Dumont, engomou-a com um grude à base de polvilho, o mesmo com que, antigamente, se engomavam paletós. Depois, uma fina camada de goma-laca.

Do mesmo material foi construído o nariz do avião, o quadrado que lembra uma caixa vazada (e sugere um bico e, por isso, foi chamado canard, pato). A seguir, asas: quatro longarinas de madeira e cana-da-índia trançadas com cordas de piano e relógio de igreja, recobertas pela seda. Todas as peças foram feitas separadamente. Unidas (com junções metálicas) começaram a dar cara ao 14 Bis.

O manche original era a alavanca de freio de mão do Peugeot do próprio Santos Dumont. Calassa usou alavanca mais convencional. No manche, está instalado o acelerador manual. Com a mão direita, Dumont, como Calassa agora, manobrava o manche e apertava o acelerador (na réplica, um manete de Mobilete).

Calassa colocou roda pequena de bicicleta no lugar da de máquina de costura, usada por Santos Dumont (que comanda cabos e impede o avião de sair para os lados). As duas rodas do que hoje se chama trem de pouso também são de bicicleta, com eram as originais.

E os elásticos presos ao corpo do piloto, para mover o painel existente em cada uma das asas (e evitar que elas baixem), dispensaram a cruzeta cosida ao paletó. Calassa fez duas alças, que se cruzam no peito, como quem usasse duas bolsas.

MOTOR E HÉLICE

O motor é um V8 de 50 hp. Dumont mandou um amigo construir. Calassa fez o mesmo, observando rigorosamente a concepção original. A hélice é formada por dois tubos de aço e as pás, de chapa de alumínio, nas pontas. O inventor criou uma mecanismo para regular o passo da hélice (quanto mais abertas as pás, mais seguram vento, mais giram e mais velocidade proporcionam). "Ele ajustava a hélice para dar o giro certo no motor", diz.

O motor de Dumont era acionado por manivela (Calassa gira a hélice). O 14 Bis usado pelo empresário para treinos possui um cesto maior do que o original. Dumont pesava 52 quilos. Calassa tem 105 quilos. Não vê problemas. "O cesto é o centro de gravidade do avião. Pode pôr peso a mais, que tudo bem."

Para Alan Calassa um grande abraço do DUMONZINHO.

fonte: O Estado de São Paulo

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